Brasil de Fato - Silvio Santos e a longa estrada da democratização da comunicação

Por Bruno Marinoni

No último sábado, 17 de agosto, a mídia noticiou o falecimento de Senor Abravanel. Morre o homem, vive o mito. Silvio Santos, representação midiática do falecido, vem sendo exaltado há dias, numa onda de comoção que reforça a imagem de “self made man”, de homem de origem humilde que teria trilhado genialmente seu caminho para o sucesso. A ênfase recai também sobre o que seria sua mística capacidade de se comunicar com o povo, fruto direto da suposta origem popular.  

Essa imagem mítica se fundamenta na aparência de proximidade entre Silvio Santos e nós, efeito ampliado pela presença física do aparelho televisor na maioria dos lares brasileiros, ao mesmo tempo em que esse homem da TV exibe características sobre-humanas, como um gênio da lâmpada, capaz de materializar desejos na forma de prêmios. Independente de qualquer suposta origem, porém, sua condição de grande empresário em diversos setores e a fortuna estimada hoje em cerca de R$ 1,6 bilhão colocam-no numa posição material e socialmente muito distante da realidade cotidiana de qualquer trabalhador do país.

Esse jogo simbólico em torno da figura de Silvio Santos entre proximidade e distanciamento, entre vida material e ideal, teve papel importante no projeto de dominação capitalista no Brasil, que se desenrolou a partir da ditadura. Produziu para parte da população sentimentos de esperança, fé, pertencimento e outras experiências de engajamento ao espetáculo mediadas por um ser fantástico onipotente e provedor, em um universo cada vez mais dominado por mercadorias, contrapondo-se no plano simbólico à experiência de esvaziamento material do dia a dia de uma classe trabalhadora em formação.